segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Teores de Nicotina dos Cigarros e a Ilusão dos Chamados Cigarros com Baixos Teores de Nicotina e Alcatrão

Na década dos anos 1950, as marcas de cigarros nos Estados Unidos continham 3mg a 4mg de nicotina. Dados de 1982 revelam que os teores de nicotina nos cigarros daquele país baixaram para 1.3mg e até 0.9mg. Inquérito realizado pela Organização Mundial de Saúde, em 1984, de 50 marcas de cigarros dos países em desenvolvimento, mostrou que todas elas continham teores superiores aos dos cigarros norte-americanos e de outros países desenvolvidos. Atualmente, a maioria dos cigarros estrangeiros contém entre 1.0mg a 2.0mg de nicotina. No Brasil, segundo dados de 1982, da Souza Cruz, 17 marcas de cigarros continham de 1mg a 1.8mg. Informação do ano 2000, do INCA, acusa os teores mais altos na marca Derby – 1.4mg – e os mais baixos nos cigarros Free – 0.93mg. Atualmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece como limites máximos, nos cigarros mencionados, 1mg de nicotina, 10mg de alcatrão e 10mg de monóxido de carbono.

Os teores reais desse alcalóide são extremamente variáveis. O tabaco não é um produto químico cujo componentes têm dose fixa. A quantidade de nicotina depende da variedade da planta, posição das folhas colhidas, época da colheita, modo de curar o tabaco, técnica de preparo e métodos de dosagem.

Nos usuários de cigarros de altos, médios e baixos teores, com e sem filtro, não se detectam diferenças das concentrações de nicotina, cotinina e carboxihemoglobina e de outros marcadores como tiocianato e monóxido de carbono.

Comparação efetuada entre o modo de fumar cigarros com teores diversos de
alcatrão, conferida pelo “puff analyser”, constatou o mesmo volume de fumaça inalada decorrente do maior número de tragadas com os cigarros com menos nicotina. Estudo de grande amostra populacional, na qual se usavam cigarros de diferentes teores, constatou não haver correspondência destes com o volume de monóxido de carbono e a concentração de tiocianato no sangue, e sim com o número de cigarros consumidos por dia, que foi tanto maior quanto menor os teores; inferiu-se ser enganosa a idéia dos cigarros de baixos teores serem menos nocivos. Essa compensação realizada pelos tabagistas ao fumarem cigarros de teores baixos, impulsionados pelas exigências da nicotina dependência, é também verificada em relação aos filtros. A constatação veio em uma pesquisa, na qual apurou-se que 86% dos fumantes de cigarros com filtro tragam, contra 36% dos que não usam filtro, e foi confirmada com dosagem de carboxihemoglobina no sangue, cujas concentrações foram muito mais elevadas nos primeiros. Outros estudos verificaram que as concentrações de cotinina no sangue eram semelhantes nos usuários de cigarros com e sem filtro.

Os dados relatados confirmam a asserção de que os teores dos cigarros dependem de como se fuma e, portanto, os cigarros de baixos teores são também de alto poder morbígeno, inclusive cancerígeno.

Registrou-se que os fumantes de cigarros de baixos teores, pelo maior consumo e tragadas mais profundas, aspiram maiores quantidades de elementos tóxicos, além da nicotina e do alcatrão. Por isso, nesses tabagistas não há redução dos processos mórbidos tabaco-relacionados. Em adolescentes e adultos que fumam cigarros de baixos teores, verifica-se a mesma incidência de sintomas respiratórios, de bronquite crônica e de enfisema que nos consumidores de cigarros “fortes”. Os consumidores dos cigarros “fracos”, além de tragar com maior intensidade, tapando os orifícios do filtro, estabelecem forte pressão negativa, porque suas paredes são impermeáveis, inalando assim maior quantidade de nicotina, monóxido de carbono e todos os demais componentes do tabaco. Em conseqüência, esses cigarros são tanto ou até mais prejudiciais que os “fortes”, e há farta documentação comprovante disso. Estudo de 1.540 indivíduos, de 18 a 44 anos de idade, na qual havia consumidores de três tipos de cigarros (baixos, médios e altos teores de nicotina e alcatrão), revelou ao cabo de 6 meses, que além de não haver praticamente diferenças nas concentrações de nicotina e cotinina no sangue e na urina, tiveram as mesmas manifestações sintomáticas respiratórias e mesmos padrões de provas funcionais pulmonares. Adolescentes, fumantes destes cigarros, com freqüência têm sintomas respiratórios e nos adultos a morbidade pulmonar elevada. Também há registro de elevação significante, em adultos, de mortalidade por processos pulmonares, inclusive devido a câncer broncogênico.

Finalmente, os cigarros de baixos teores desencadeiam graus de dependência nicotínica semelhantes aos demais cigarros. Ao nosso ver, há um fato epidemiológico, demonstrativo da incapacidade dos cigarros de baixos teores diminuírem a incidência do câncer broncogênico e de seu alto poder cancerígeno.
Com a expansão acelerada do tabagismo nas mulheres a partir da Segunda Guerra Mundial, seguiu-se à elevação aguda, dramática, da mortalidade por esse tipo de câncer, tanto que em diversos países já está sobrepujando o câncer da mama, assim como também elevação do infarto do miocárdio. Ora, praticamente desde então, todas as mulheres iniciaram-se no tabagismo fumando cigarros de baixos teores e estes são os únicos que elas vêm consumindo até hoje.

Para que os cigarros de baixos teores sejam mais consumidos, a indústria tabaqueira adiciona aditivos para proporcionar melhor e maior sabor. Esses são naturais e sintéticos, passando de mais de 600. Muitos fornecem odor e sabor de frutas, licores e outras substâncias agradáveis, como por exemplo, etil-3-metilvalerato (maçã), fenilalcool (rosas), acetilpirazina (nozes) e anetol (anis). Para atrair os adolescentes, são muitos os aditivos, como os empregados no Brasil, que proporcionam gosto de suco de frutas. Vários desses aditivos são hepatotóxicos ou cancerígenos quando queimados, como: cumarina, glicerol, dodecam-5-ólido, nonam-4-ólido. Um grande número dos aditivos ainda não tiveram sua toxidez examinada.

“O único cigarro que não faz mal é aquele que nunca se fuma”.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Brasil perde 200 mil pessoas por ano em decorrência do fumo

Brasília - O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um problema de saúde pública global e a segunda maior causa de mortes no mundo. Ototal de mortes devido ao uso do tabaco já atingiu a cifra de cinco milhões de mortes anuais, o que corresponde a mais de 10 mil mortes por dia. No Brasil, cerca de 200 mil pessoas morrem anualmente em decorrência do cigarro, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
As estimativas da OMS apontam que existem 1,3 bilhões de fumantes no mundo. Metade deles, cerca de 650 milhões, morerão prematuramente por alguma doença relacionada ao tabaco. As projeções do órgão mostram um incremento de 31% nas mortes relacionadas ao consumo de tabaco nos próximos 20 anos. Se isso for verdade, a quantidade de mortes anuais chegará a 10 milhões de pessoas em todo o mundo.
Os custos econômicos do uso do tabaco também são altos. Segundo a OMS, o produto gera uma perda líquida global de US$ 200 bilhões por ano e aumenta a desigualdade social, e pobreza e a desnutrição. Um terço dessa perda se concentra nos países em desenvolvimento, como o Brasil.
As graves consequências sociais e econômicas motivaram os países menbros da OMS a sugerirem a adoção da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, primeiro tratado internacional de saúde pública do mundo. Para a diretora do programa da OMS Iniciativa Livre do Tabaco, a brasileira Vera Luíza da Costa e Silva, é essencial que o Brasil ratifique o tratado.
"Pelas 200 mil mortes que acontecem na população brasileira, por uma necessidade de promover a saúde pública e também porque questões como impostos e tabaco, o contrabando e a publicidade são questões que o governo isoladamente não tem como trabalhar sem fazer parte de um tratado internacional", afirma.
O presidente do INCA, José Gomes Temporão, acredita que a ratificação da Convenção é antes de tudo uma ação estratégica para o país e não se contradiz com a continuidade do plantio do tabaco.
"Temos que optar pela saúde pública e pela vida. É claro que a questão dos pequenos produtores tem que ser considerada, mas os temores que eles alegam na verdade estão sendo formentados pela indústria, porque não existe nenhuma linha escrita na Convenção-Quadro que coloque em curto prazo qualquer ameaça a continuidade na produção de tabaco", afirma.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Tabagismo na Gravidez

Está na embalagem do cigarro: fumar faz mal à saúde. Se esse hábito traz danos para qualquer um, imagine para as grávidas. Estudos já comprovaram que essas mães possuem 40% mais chances de gerar filhos prematuros, aumentam em 70% a probabilidade de abortar e correm mais risco de ter descolamento de placenta antes do tempo certo - o que causa a morte de 50% dos bebês.

FATORES QUE AFETAM A MORTALIDADE FETAL E INFANTIL

Baixo peso

O baixo peso ao nascimento de um recém-nascido de uma gestante fumante foi uma das primeiras conseqüências observadas devido a esta condição. Marsh (1985) afirma que este efeito é o mais consistente resultado do fumo materno. Esse autor relata que esta redução do peso ao nascimento devido ao fumo está relacionado com a dose. A incidência de recém-nascidos com peso menor de 2.500 g foi de 4,7% entre os filhos de não-fumantes e de 7,7% em filhos de fumantes moderadas (até um maço por dia).

Dougherty e col. (1982) relataram que as fumantes de até 15 cigarros por dia causam em média uma perda de 107 g entre seus recém-nascidos, e que as fumantes de mais de 16 cigarros por dia causam uma perda maior, de 158 g em média, mesmo após o ajustamento para outras variáveis.

Hebel e col.10 (1988) também relataram uma relação dose-resposta entre o peso ao nascimento e a quantidade de fumo aspirado durante a gravidez.

Marsh (l985) realizou uma excelente revisão sobre os componentes do fumo de tabaco e seu mecanismo de ação, os quais estão sumarizados abaixo:

Nicotina: um alcalóide. É o componente ativo do fumo de tabaco. Age sobre os gânglios simpáticos e na medula da supra-renal, causando uma liberação de acetilcolina, epinefrina e norepinefrina. Estas catecolaminas agem sobre o coração, causando um aumento da freqüência cardíaca, na agregação plaquetária e nos fatores de coagulação. Um dos efeitos mais importantes é a vasoconstrição dos vasos uterinos, reduzindo-se assim a perfusão do espaço interviloso, com a conseqüente redução da disponibilidade de oxigênio para o feto.

Monóxido de carbono (CO): tem a capacidade de ligar-se à hemoglobina mais facilmente que o oxigênio, deslocando assim o oxigênio da oxihemoglobina e privando o sangue da sua capacidade de transporte de oxigênio. É um dos principais suspeitos de ser responsável pelo efeito de diminuição do peso fetal.

Cianato e tiocianato: podem causar uma baixa dos níveis séricos de B12 devido à conversão da cobalamina em cianocobalamina.

Anidrase carbônica: age nas células vermelhas como uma poderosa enzima que cataliza a reação CO2 + H2O H2CO3. Os íons de cianato e de tiocianato, além do CO, inibem esta enzima. A importância deste achado é que no feto exposto ao fumo materno, o sistema respiratório celular é afetado e a hípóxia tissular e acidóse resultantes podem afetar o crescimento fetal.

Placenta Prévia

Placenta prévia é a condição na qual a placenta está implantada no óstio cervical ou muito perto do mesmo. A placenta prévia está relacionada com o aumento das mortes fetais devido ao sangramento.

Os mesmos autores mostraram que há um aumento na freqüência de placenta prévia entre as grávidas fumantes e que tal aumento estava relacionado com o número de anos que a mulher tinha fumado cigarros anteriormente.

Morrow e col.16 (1988) estudaram as alterações de velocidade da circulação uterina e umbelical, pelo Doppler fluxometria, e concluíram que o fumo causa um aumento direto na resistência vascular da placenta do lado fetal e que tal resistência pode dificultar a troca de oxigênio pela placenta e contribuir para maior incidência da placenta prévia e do descolamento prematuro da mesma.

Descolamento Prematuro da Placenta

Descolamento Prematuro da Placenta (DPP) é a separação da placenta da parede uterina antes de o feto ter sido expulso.

O DPP é uma outra patologia relacionada com a placenta que aumenta sua freqüência durante a gravidez. As placentas de fumantes grávidas apresentam uma maior freqüência de necrose na decídua basal e que tal condição é uma causa possível da separação precoce da placenta, do seu local de implantação.

Gravidez Tubária

De acordo com Chow e col.(1988), as mulheres fumantes têm um risco duas vezes maior de gravidez tubária (risco relativo ajustado de 2,2), quando comparadas com mulheres as quais nunca fumaram. O risco de gravidez ectópica tubária para mulheres que pararam de fumar antes da concepção foi de 1,6.

Icterícia Neonatal

Diwan e col, (1989) relataram que as gestantes que fumaram na gravidez podem ter um risco mais baixo de ter um recém-nascido com icterícia neonatal do que mães não-fumantes. O possível mecanismo para este efeito protetor, sugerido pelos autores, é que o fumo do cigarro contém compostos relacionados com o 3-metilcolantereno, os quais são fortes indutores do sistema enzimático dos microssômas. Esta indução aumenta o metabolismo da bilirrubina em glicoronídeo bilirrubina e então em urobilinogênio. Desta forma, o fumo pode aumentar a taxa de excreção de bilirrubina e, conseqüentemente, reduzir a incidência de icterícia neonatal.

Assim, podemos concluir que a prevenção do fumo na gravidez poderia contribuir para uma certa redução na mortalidade fetal e infantil e que medidas para mudar este comportamento precisam ser estimuladas. Parece que alguns países têm alcançado tendência declinante no hábito de fumar, mas o problema é ainda muito importante no Brasil e talvez em outros países em desenvolvimento.
Também a importância do tabagismo passivo, como um fator de risco para a mulher grávida e seu concepto, não pode ser negligenciada.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Tabagismo e Beleza Não Combinam

Você sabia que o cigarro é inimigo da beleza? Exatamente o contrário do que pregou a indústria tabaqueira, que resvestiu o vício do tabaco, durante décadas, numa embalagem de sofisticação e glamour, principalmente através do cinema.

No passado, atores e atrizes influenciavam gerações baforando em frente as câmeras. Hoje, um movimento contrário acontece entre as estrelas e famosos de todo o mundo. Eles tentam parar de fumar e tentar preservar o que a câmera imortaliza em muitos deles: a beleza!

Cigarro destrói a beleza da pele e cabelos

Preservar a beleza e fumar são coisas completamente antagônicas! “Pesquisas mostram que o envelhecimento facial do fumante é 3,5 vezes mais rápido em relação ao não fumante. Além disso, fumar pode aumentar o risco de câncer da pele”, complementa Carla Albuquerque, dermatologista e membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

O cigarro causa dano a todo o organismo através de sua atuação direta na corrente sanguínea. Sem a circulação correta de nutrientes, as células não conseguem reter água e vitaminas e a pele se torna flácida, opaca e sem brilho. Os cabelos perdem o viço e ficam ressecados.

Tratamentos antienvelhecimento não funcionam para fumante



No passado, atores e atrizes influenciavam gerações baforando em frente as câmeras. Hoje, um movimento contrário acontece entre as estrelas e famosos de todo o mundo. Eles tentam parar de fumar e tentar preservar o que a câmera imortaliza em muitos deles: a beleza!
Substâncias tóxicas são lançadas na corrente sanguínea e estimulam a formação de radicais livres causando envelhecimento precoce e a formação de rugas.
Os fumantes que tratam com cremes anti-envelhecimento, podem não perceber os mesmos benefícios constatados pelos não fumantes, pois os efeitos do fumo tornam-se crônicos e persistentes com o tempo de tabagismo.
Fumo provoca Celulite

O fumo também está associado ao aparecimento de celulite por sua influência na circulação sanguínea e excesso de toxinas, que acabam por propiciar a formação de depósitos de gorduras e por consequência o temível efeito casca de laranja.

Fumo provoca perda dos dentes e de implantes dentários

Estudos evidenciam que quem fuma tem quatro vezes mais chances de contrair periodontite, doença que causa a destruição do osso que sustenta os dentes. Isto porque o fumo aumenta a descamação da mucosa oral, provoca aquecimento da gengiva e inflamação do tecido, com consequente destruição do tecido ósseo, podendo resultar na perda total do dente.

Dependendo da gravidade do caso (tempo de fumo, volume e falta de cuidados com a higiene bucal) a destruição do tecido ósseo pode chegar ao ponto de impedir a colocação do implante. Se o hábito de fumar persistir e a pessoa não tomar os cuidados necessários para manter a boca saudável, pode perder inclusive o implante já feito.


quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O Mecanismo da Dependência do Cigarro

Uma das causas da dependência do cigarro no organismo é atribuída aos efeitos dos níveis da dopamina no cérebro; substância associada às sensações prazerosas.

Assista ao vídeo para entender como esse processo ocorre, fazendo seu organismo sentir cada vez mais necessidade de nicotina para sustentar o ciclo de dependência ao tabaco.

Dependência Psicológica ao Cigarro

Fala-se muito da dependência física causada pela nicotina, substância psicoativa, estimulante do Sistema Nervoso Central. A dependência psicológica é menos citada, porém atua com bastante força e de forma bem complexa. Requer um olhar atento para que se possa entendê-la.A seguir, faremos uma descrição da dependência psicológica, formas de reconhecê-la e formas de abordá-la.

A grande maioria dos fumantes experimenta o cigarro na adolescência ou seja numa época de transição em que é comum sentir-se inseguro, ter medo, estar ansioso, querer pertencer a um grupo, querer imitar os amigos, sentir-se feio... Apesar do fumante, na maioria das vezes, sentir-se mal na primeira tentativa, ele insiste em “aprender” a fumar, por achar que valerá a pena, isto é, haverá um ganho com esse comportamento. Através dele, poderá integrar-se ao grupo de amigos, parecer mais velho, ter status frente aos pares... Muitos fumantes afirmam que insistiram por achar que fumar era “bonito”.

Essa expectativa muito positiva quanto ao cigarro, (criada principalmente pela propaganda, cinema e mídia durante anos) é aceita sem questionamentos . O cigarro parece ser vivido, não conscientemente, como um grande ajudante para lidar com os sentimentos desagradáveis próprios da adolescência, dando sensação de bem-estar. Graças a suas propriedades psicoativas, o cigarro é capaz de provocar sensação prazerosa, estimulante e ansiolítica, e desta forma aplacar o mal-estar característico deste período, sem dar chance ao indivíduo de enfrentar essas situações com seus próprios recursos, aprender e se desenvolver com elas. No fumante que inicia mais tarde, o processo basicamente é o mesmo. Em qualquer período da vida podemos passar por situações difíceis de lidar.

O cigarro passa a fazer parte da vida do fumante e torna-se um meio de enfrentá-la. Podemos dizer que, no fumante adolescente, sua personalidade estrutura-se com o auxílio do cigarro. Ele entende que só pode enfrentar a vida com o cigarro ao seu lado, não acreditando que seja capaz sem ele. De fato, o cigarro foi útil num momento de fragilidade, porém com o tempo estabeleceu-se a dependência física e psicológica. O fumante fica preso à armadilha. Ele sofre sem o cigarro, não se conhece mais sem ele, não sabe mais distinguir que características são suas e quais as provocadas pelo uso do cigarro.

É muito comum o fumante referir-se ao cigarro usando os termos “amigo”, “companheiro”, “parceiro”... , mostrando que o cigarro participa de sua vida como muito presente e atuante. Poderíamos dizer que são cúmplices. Muitos fumantes quando pensam em parar de fumar sentem-se muito tristes por ter que dizer adeus ao cigarro. Muitos choram como se estivessem perdendo um ente querido. O cigarro acaba sendo investido de atributos humanos para aplacar sua solidão, seus sentimentos, suas dificuldades... Muitas de suas capacidades estão depositadas no cigarro, achando que só poderá realizar tal atividade devido a ele. Na verdade a capacidade é da pessoa , mas por não saber que a detém, a atribui ao cigarro. Desta forma o fumante acredita que só pode escrever se fumar, criar se fumar, ter uma atividade mental se fumar, relacionar-se com os outros se fumar...(ver artigo sobre condicionamentos).

Crenças negativas também podem existir em relação ao cigarro. O fumante pode acreditar por exemplo que se parar de fumar será melhor aceito no seu meio de trabalho, não será mais discriminado, que o cigarro é o responsável por todos os seus males... neste caso serve de “bode expiatório” para explicar todos os seus fracassos. Se o cigarro é o responsável, o indivíduo não precisa se deparar com suas dificuldades!

O termo “fissura” é usado para descrever o mal-estar e a vontade intensa de fumar. Passadas as primeiras semanas, a “fissura” á atribuída à dependência psicológica. Trata-se da lembrança da sensação de prazer provocada pelo cigarro e das associações feitas nos momentos de dificuldades. Por exemplo, após uma situação de nervosismo ou dificuldade, o “quase ex-fumante” pensa em acender um cigarro para se acalmar, relaxar... O fumante sabe que se acender um cigarro irá sentir um efeito positivo e esse fato o faz procurar o cigarro novamente. A muleta que o cigarro representa para enfrentar situações difíceis é lembrada sempre que o fumante se depara com elas.

A dependência psicológica precisa ser tratada tanto quanto a dependência física. Faz-se necessário um acompanhamento psicoterápico em grupo ou individual para ajudar o fumante a tomar consciência da situação, perceber o que o cigarro representa na sua vida e que lugar ocupa, no intuito de ajudá-lo a perceber que o cigarro é somente um cigarro e que provavelmente é atribuído a ele muitos aspectos seus.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Nicotina

A nicotina é alcalóide vegetal e sua fonte principal é a planta do tabaco. É sintetizada nas raízes, subindo pelo caule até as folhas. Nas mais altas e nas áreas próximas ao talo, armazenam-se as maiores concentrações. Todavia o conteúdo de nicotina varia com os tipos da planta. Pode-se por engenharia genética aumentar o teor de nicotina na planta.

Estrutura da Nicotina

A nicotina é uma amina terciária composta de anéis de piridina e pirolidina (fig 1).
Existem formas racêmicas estereoisomeras de estrutura tridimensional. No tabaco, duas
estão permanentemente presentes: l-nicotina e d-nicotina. A primeira é 100 vezes maisativa farmacologicamente, constituindo 90% do total. No ato de fumar, atingindo a brasa do cigarro em torno de 800°C, surgem formas racêmicas. Estereoisomeros da nicotina variam com as plantas do tabaco. Na Nicotiana tabacum encontram-se os mais importantes farmacologicamente, como a anabasina, anabatina, nornicotina, miosina, Nmetilanabasina nicotirina, nornicotirina. Nornicotina e anabasina possuem atividade semelhante à da nicotina . O tipo do tabaco, o modo e a freqüência das tragadas influem a quantificação desses alcalóides. Os mais importantes metabolitos, quantitativa e qualitativamente, são a cotinina e o óxido-N-nicotina.



Fig 1: Molécula da Nicotina


Marcadores Biológicos

São utilizados vários biomarcadores que atestam à absorção de substâncias contidas no tabaco pelos fumantes regulares e fumantes passivos. Dos mais usados, destacam-se a nicotina e a cotinina, seu principal metabolito. Também são utilizados o tiocianato na saliva, a carboxihemoglobina no sangue e o monóxido de carbono no ar expirado, estes, porém comportam técnicas menos práticas. Nicotina e cotinina podem ser pesquisadas na urina, no sangue e na saliva, sendo o primeiro material orgânico de mais fácil utilização na rotina. A nicotina é mais limitada porque sua meia vida é de duas horas, já a da cotinina prolonga-se por 36 a 40 horas, e às vezes até mais. A presença da cotinina ou nicotina nos materiais orgânicos não diferencia se é de fumante regular ou fumante passivo. Nos dois casos, seus níveis de concentração em qualquer material são lineares com as quantidades de tabaco consumidas pelos tabagistas e com o grau de exposição à poluição tabágica ambiental pelos fumantes passivos. Por isso, esta é mais usada como marcador para estudar comportamentos de fumantes, pois pode ser detectada na urina, na saliva e no sangue muitas horas depois de cessado de fumar. Na maioria dos casos, na urina colhida dois dias depois de se ter fumado o último cigarro, ainda pode-se recuperar até 90% da cotinina.

Esta é farmacologicamente inativa e ao final é metabolizada, gerando trans-3-hidroxicotinina (34%) e glucoranide de nicotina (13%), ambas também sem atividade farmacológica.
Na prática, a presença de nicotina e/ou cotinina em material orgânico pode ser considerada prova específica de fumante regular, fumante passivo e pessoa em tratamento com o método da reposição da nicotina para a cessação de fumar. Entretanto, é bom lembrar que vegetais alimentícios da família das solanáceas elaboram nicotina em quantidades mínimas.

Traços de nicotina existem na batata, na berinjela, na couve-flor, no pimentão verde, na polpa do tomate e no chá preto. Aventa-se a possibilidade de contaminação de vegetais por inseticidas que contém nicotina.

Campanha Contra o Tabagismo - Ministério da Saúde

Tabagismo no Mundo



“Na atualidade consomem-se diariamente 200 toneladas de nicotina, totalizando 73 mil toneladas Estima-se que 2 bilhões de pessoas não-fumantes inalam nicotina por viverem expostas à poluição tabágica ambiental. Mais da metade da humanidade inala nicotina diretamente quando são fumantes e indiretamente quando convivem com fumantes. Há no mundo em torno de 1 bilhão de pessoas dependentes da nicotina.”
Organização Mundial da Saúde
Organização Panamericana de Saúde
U.S. Department of Health and Human Services
Convenção Quadro Internacional de Controle do Uso do Tabaco
1999, 2000, 2003

O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável em todo o mundo. A OMS estima que um terço da população mundial adulta, isto é, 1 bilhão e 200 milhões de pessoas (entre as quais 200 milhões de mulheres), sejam fumantes. Pesquisas comprovam que aproximadamente 47% de toda a população masculina e 12% da população feminina no mundo fumam. Enquanto nos países em desenvolvimento os fumantes constituem 48% da população masculina e 7% da população feminina, nos países desenvolvidos a participação das mulheres mais do que triplica: 42% dos homens e 24% das mulheres têm o comportamento de fumar.

O total de mortes devido ao uso do tabaco atingiu a cifra de 4,9 milhões de mortes anuais, o que corresponde a mais de 10 mil mortes por dia. Caso as atuais tendências de expansão do seu consumo sejam mantidas, esses números aumentarão para 10 milhões de mortes anuais por volta do ano 2030, sendo metade delas em indivíduos em idade produtiva (entre 35 e 69 anos) (WHO, 2003).

O INCA desenvolve papel importante como Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Programa "Tabaco ou Saúde" na América Latina, cujo objetivo é estimular e apoiar políticas e atividades controle do tabagismo nessa região, e no apoio à elaboração da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco, idealizada pela OMS para estabelecer padrões de controle do tabagismo em todo o mundo.